6 de nov. de 2011

Destinos da Educação: Xangai, Finlândia e Chile

Post de Mariza Abreu*

Já foram exibidos na série Destinos da Educação, do Canal Futura, os programas sobre Xangai, Finlândia e Chile, respectivamente nas segundas, dias 17, 24 e 31 de outubro. Vale à pena assistir. Foram consultoras da série Maria Helena Castro, presidente do Inep/MEC no governo Fernando Henrique Cardoso e Secretária de Educação de São Paulo no governo José Serra, Beatriz Cardoso, presidente da Organização Comunidade Educativa, e Priscila Cruz, diretora executiva do Movimento Todos pela Educação.

Os programas da série seguem um padrão, com entrevistas de gestores da educação e estudiosos do tema, visitas a escolas, entrevistas de professores e alunos do grupo avaliado pelo PISA, ou seja, em torno de 15 anos e cursando o 9º ano escolar, e acompanhamento da vida de um desses alunos, com visita a sua residência e entrevista de seus pais.

Em Xangai, a política de filho único da China resulta em intenso processo de acompanhamento pelos pais da vida escolar dos alunos, e ocorrem aceleradas modificações no currículo em articulação com as mudanças pelas quais passa o país recentemente. Ao mesmo tempo, mantém-se o regime, pois a inserção dos adolescentes na vida adulta se dá com uma cerimônia aos 14 anos (não aos 15 como entre nós, ou aos 13 como na cultura judaica) e seu ingresso na juventude comunista. Interessante foi a sinceridade do depoimento de um professor ao declarar que a boa classificação de Xangai no PISA deve- se ao fato de que esse exame avalia aquilo em que eles, chineses, são bons; se outros itens fossem avaliados, como criatividade, a posição da China poderia não ser tão proeminente.

Na Finlândia, foi enfatizada a qualidade da educação pública, onde estudam 98% dos finlandeses, país com 5,3 milhões de habitantes, baixa densidade demográfica e elevado grau de igualdade social. Entre os entrevistados, houve destaque para a importância da educação na sociedade filandesa, a equidade da oferta educacional no país, o satus social do professor e a qualidade da formação inicial do magistério como principais fatores dos bons resultados educacionais que a Finlândia vem obtendo nas avaliações internacionais, notadamente no PISA. Interessante destacar a organização sindical dos professores e a entidade nacional dos pais, e a participação dessas entidades nas mudanças educacionais promovidas no país, apesar da referência à insuficiente remuneração do magistério.

Em setembro de 2009, logo após deixar a Secretaria de Estado da Educação do Rio Grande do Sul, a convite da Embaixada da Finlândia tive a oportunidade de conhecer o sistema educacional finlandês em conjunto com outros secretários de Educação do Brasil, ou ex-secretários, pois também a professora Dorinha Seabra, viajou na condição de ex-secretária do Tocantins.

Na Finlândia, Estado unitário, e não Federação como o Brasil, para o financiamento da educação básica, há um fundo de equalização de um valor mínimo por aluno, com recursos do governo central repassados às municipalidades, que têm suas próprias arrecadações. Helsinque não recebe, pois não precisa. Algo semelhante ao nosso Fundef/Fundeb. Essa deve ser a base financeira da mesma qualidade do ensino em toda a Finlândia.

No que concerne à gestão educacional, chamou-nos atenção um mecanismo em âmbito nacional, de pesos e contrapesos entre o ministério de natureza política, um conselho de natureza administrativa e outro órgão de representação social, de forma a assegurar a predominância de cargos da burocracia estatal mais representações da sociedade em relação a cargos políticos, mecanismos que somado ao sistema político (parlamentarismo), sistema partidário (3 a 4 partidos participantes do governo) e ao sistema eleitoral (voto distrital), garante significativa continuidade na implementação das políticas públicas, como declarou um dos professores entrevistados no Destinos da Educação. São importantes também as características da gestão escolar na Finlândia. Por exemplo, pelo menos em Helsinque, os diretores escolares eram escolhidos pela municipalidade numa lista tríplice encaminhada pelo conselho escolar, constituído por professores e pais da escola.

A liberdade dos professores, enfatizada no programa, é balizada por um currículo nacional, cuja última versão foi aprovada numa reunião de todos os ministros do governo finlandês, não só âmbito da gestão educacional. O desenvolvimento da Finlândia fundamentava-se na alta tecnologia e na inovação – o país é a sede da Nokia, e depende, pois, de educação de ponta. De fato, eles não têm um sistema de avaliação externa da aprendizagem, porque adotam o PISA como sua avaliação.

Por fim, uma das características da educação na Finlândia que mais nos chamou a atenção foi a diversificação curricular do Ensino Médio. Visitamos uma escola profissionalizante, na área de serviços (serviços de beleza, moda com corte e costura, cozinha e garçons para restaurante - almoçamos lá - etc.). Mas as escolas de ensino não profissionalizantes oferecem currículos com diferentes ênfases, por exemplo, em matemática, ciências da natureza, línguas etc. Visitamos uma com ênfase em artes visuais - pintura, xilografia, desenho, cinema etc. Realmente, um show!!!

O programa sobre o Chile foi ao ar no dia 31 de outubro. Ao contrário dos outros dois países exibidos anteriormente, os alunos da educação básica não estudam majoritariamente em escolas públicas. Há três tipos de escolas: privadas, onde as famílias pagam pelo estudo de seus filhos; privadas subvencionadas pelo Estado; e municipais (como a Finlândia, o Chile é um Estado unitário, com governo central e municipalidades). Muitos depoimentos destacaram as diferenças de qualidade entre essas escolas, inclusive que as greves (huelgas) de professores acontecem somente nas escolas municipais, e que a cada episódio de greve um contingente de pais de alunos busca a transferência da matrícula de seus filhos dessas unidades escolares para as subvencionadas pelo governo.

Também tema recorrente foi a situação do magistério no Chile. Por um lado, destacou-se a participação dos professores, por meio de suas entidades, nas reformas implementadas no país, as quais se viabilizaram devido ao significativo incremento dos recursos públicos destinados ao setor educacional. Por outro lado, apresentaram-se os mecanismos de avaliação do trabalho docente experimentados naquele país latino-americano, ao mesmo tempo em que também se fez referência aos níveis insuficientes de remuneração dos professores chilenos.

A série Destinos da Educação tem continuidade em novembro com Coréia do Sul, Canadá e Brasil. Não perca. Vale à pena. O programa irá ao ar às 21 horas e será reprisado às terças feiras, às 13h30, aos domingos às 18h.

Veja os dados:


*Ex-secretária da Educação do Rio Grande do Sul

O Enem sob fogo cerrado

Clipping Folha de São Paulo


ARTHUR FONSECA FILHO*

O clima de tensão e a cortina de fumaça dificultam que a sociedade perceba a grande contribuição desse exame ao sistema de ensino brasileiro

O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que aconteceu no último final de semana, está sob fogo cerrado: as críticas se concentram na divulgação dos dados, nos seus problemas de organização, nos riscos de fraude e, mais recentemente, no caráter nacional e unificador de tal exame.

Os críticos apontam que, ao substituir os vestibulares das universidades, o exame deixaria as instituições sem capacidade de escolher um perfil mais específico de aluno.

Indicam, ainda, que o sistema permitiria que alunos com boa pontuação em uma região fossem aprovados em instituições de outra parte do país, tomando vagas locais e aumentando o risco de evasão.

Embora haja algo de real nessas ressalvas, há um evidente exagero em muitas das reclamações.

O clima de tensão criado e a cortina de fumaça dificultam que a sociedade perceba a grande contribuição desse exame ao sistema educacional brasileiro.

Lembremos que o ensino médio brasileiro sofre, há décadas, de um garrote ao qual se submeteu pela fraqueza das políticas públicas de educação básica: a vampirização do currículo por grandes vestibulares.

É uma reação em cadeia pela qual, por exemplo, um grupo de pesquisadores de cada um dos institutos da USP decide, sem sair da cidade universitária, o que a Fuvest deve cobrar dos alunos e, por consequência, o que uma boa escola de ensino médio precisa ensinar.

Esse raciocínio, multiplicado por centenas de universidades país afora, resultou em um currículo irrealizável, conteudista ao extremo, míope, que nenhum bem trouxe à educação. Com o Enem, conceitos como competência e habilidade tornaram-se vocabulário comum de professores e alunos -e também de famílias e da sociedade.

O exame mostrou que os conhecimentos se renovam, mas que as estruturas cognitivas básicas que os operam permanecem e devem ser estimuladas. Demonstrou que uma prova inteligente é capaz de discriminar os mais competentes sem forçá-los a saberes enciclopédicos, destinados ao esquecimento.

Identifica, ainda, quem passou por uma escola que valorizou o raciocínio, a argumentação, o ensino contextualizado, as habilidades de leitura alfabética e numérica... enfim, aquilo que é fundamental para o desenvolvimento humano.

O Enem já se mostrou um instrumento legítimo para aferir o desempenho dos alunos e para avaliar sua trajetória escolar. Em casos específicos, outros instrumentos complementares devem ajudar as universidades a encontrar um perfil próprio de aluno. As distorções eventuais podem, ainda, ser corrigidas por instrumentos de gestão.

Urge cuidar desse patrimônio, trabalhando para que a sociedade e a mídia compreendam melhor os resultados e deixem progressivamente de fazer análises dogmáticas, centradas nos riscos de qualquer grande exame, para enriquecer a leitura das múltiplas informações que o exame fornece.

*ARTHUR FONSECA FILHO é educador, membro do Conselho Estadual de Educação de São Paulo, diretor do Colégio Uirapuru e membro do conselho administrativo do Colégio Santa Cruz.


Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

5 de nov. de 2011

Prova para professores: Jabuticaba?

Clipping do blog de Simon Schwartzman

Reproduzo o artigo de João Batista Araujo e Oliveira publicado no O Estado de São Paulo de 1/11/2011.

Sempre julguei que uma prova nacional para professores fosse uma boa solução. Selecionaria pessoas equipadas para o magistério e apontaria às instituições formadoras aspectos importantes na preparação dos recursos humanos. A recente iniciativa do Ministério da Educação (MEC) mostrou-me que meu repentino otimismo era infundado. Mais uma vez, venceram as corporações. O documento produzido pela comissão responsável reproduz a geleia geral característica dos cursos de Pedagogia, ancorados em teorias da moda, sem fundamentação nem compromisso com os graves problemas da formação do professor, em especial nas matérias básicas. As audiências públicas e os órgãos responsáveis pelos sistemas de ensino não trouxeram racionalidade ao debate.

A menção de que experiências de outros países foram consideradas tampouco diz grande coisa, tendo em vista a seletiva capacidade de ouvir dos que conduzem tais questões. A modelagem do exame com base no famigerado Enem, o mais frágil e controvertido dos testes produzidos pelo MEC, aumenta o pessimismo.

Falta racionalidade à proposta que foi apresentada para debate pelo MEC: uma matriz com três dimensões, dez “competências” e dez “eixos” do conhecimento. Inexiste diferenciação entre professores de creches, pré-escolas e séries iniciais. Os conteúdos das disciplinas centrais – elaborados por comissões formadas por vários especialistas – ocupam 3 a 4 linhas cada, num documento de 15 páginas. Não é possível que essa seja a única contribuição de tão selecionado grupo... Leia mais

Vexame nacional

O deputado Vanderlei Macris (SP) cobrou explicações do ministro da Educação, Fernando Haddad, sobre a contratação de empresa de músicos sertanejos para prestar serviços de tecnologia ao Inep, responsável pela coordenação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Macris defendeu a realização de audiência na Câmara com o petista para esclarecer esse e outros problemas detectados na aplicação da prova este ano.

Segundo o “Correio Braziliense”, além de conveniar com associações de fachada para cuidar da segurança da informação na internet, o instituto contratou a Jeta Soluções, companhia do produtor José Francisco Alves da Silva e do cantor Gilvânio Santos Viana Filho. A reportagem mostra que, com capital de R$ 30 mil, a empresa nunca tinha trabalhado para o setor público. A primeira disputa foi a licitação do Inep, onde conseguiu registro de preços de R$ 6,4 milhões, quantia acima da média de mercado, segundo alguns especialistas... Leia mais

4 de nov. de 2011

Incompetência comprovada

Em virtude do descaso de Fernando Haddad com a Câmara, o líder do PSDB na Casa, Duarte Nogueira (SP), anunciou nesta terça-feira que o partido pedirá a convocação do ministro da Educação para dar esclarecimentos sobre os problemas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em 23 de agosto, tucanos já tinham apresentado requerimento na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle para audiência pública com o petista. No último dia 14, a proposição foi aprovada após transformação em convite, mas o ministro não dá qualquer sinalização de que virá espontaneamente ao Congresso.

A expectativa era de que Haddad compareceria à Câmara no próximo dia 9, mas a secretaria da comissão mais uma vez não conseguiu confirmar a data, motivando o pedido de convocação... Leia mais