24 de nov. de 2011

As dores da educação

Artigo de Nayr Tesser* publicado no jornal Zero Hora (24/11/2011)

A minha entidade de classe – Cpers –, que ajudei a construir, não mais me representa – este é um lado da questão. O governo que aí está e no qual não votei, mas me representa, é o outro lado da questão. É dessa contradição e através da velha dialética que tentarei chegar à síntese. Há duas campanhas envolvendo a sociedade atualmente: o X da Educação e Crack, Nem Pensar e essas duas campanhas são indicadores sensíveis e concretos do perigo que estamos correndo. Nesse sentido, não posso reduzir a questão da educação ao salário, pois essa questão não diz respeito somente a um segmento ou a mim, mas à sociedade como um todo. Ao me posicionar em relação às questões educacionais atualmente em discussão, não faço mais do que dar meu testemunho e convicção de que a única saída para a maioria de nossos problemas é oferecermos um ensino de qualidade.

Faço isso em nome do futuro dos meus alunos, fiel ao ditado tantas vezes mencionado em aula: “Aprender é sair de si mesmo”; e quem não o fizer habitará para sempre o país da jurisdição do próprio umbigo.

Negocio, pois, meu baixo salário pelo direito de meus alunos, que acompanhei ao longo de mais de 50 anos de profissão, exercida na UFRGS e na escola pública estadual, escola esta que sofre,hoje, as indefinições e perplexidades vividas pela sociedade atual. A importância do professor não pode ser medida pelos salários que recebe; nossas reivindicações e nossas lutas não devem reduzir-se a estratégias cada vez mais violentas,ou fazer da sala de aula uma arena sindical.

O professor é um professor e jamais será substituído por imagens virtuais.O professor É,ponto final.

Fiel a essa certeza, senhor governador, acredito em suas intenções e, como participante ativa das lutas da minha categoria, mencionarei alguns fatos, cuja história parece ter sido esquecida:

1.Plano de carreira – Envelheceu e está descontextualizado, tornou-se um conjunto de penduricalhos na tentativa de compensar os baixos salários. Deve ser alterado para acolher o novo piso salarial.

2. Bons concursos – Competência e desempenho, pejorativamente rotulados de “meritocracia”, devem ser avaliados, sim,pois alunos de uma escola pública empobrecida merecem o melhor!

3.Municipalização do ensino – Sempre repudiada por alguns professores porque isso iria dividir a categoria,quando na verdade a municipalização responde ao espírito constitucional, o que melhoraria os planos de carreira dos municípios e aliviaria a responsabilidade do Estado.

4.Quadro de pessoal por escola,denominado atualmente de “enturmação”, foi uma das solicitações dos professores no acordo de 1980, incluída na 6ª cláusula, alínea “a”, e ratificada em 1985 através da criação de uma comissão mista SEC/Cpers, tarefa nunca levada a cabo pelo magistério.

Podemos não concordar com certas posições, mas acusar os demais pelo que não soubemos ou não quisemos fazer é, no mínimo, escamotear a verdade ou ignorar as reivindicações da categoria, ou esquecê-las porque não me favorecem. Se exijo moral e ética dos demais, devo fazer jus a elas. Sou fiel à velha dialética, daí o ditado: “Sem autocrítica, ninguém avança”


* PROFESSORA

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