2 de dez. de 2011

Reações à proposta de reforma do Ensino Médio da SEC

Post de Mariza Abreu*

Apesar de amplas manifestações contrárias à proposta de reforma do Ensino Médio, o governo Tarso teima em implementá-la de forma impositiva, tal como ocorreu no passado com o famoso "calendário rotativo".

A proposta de reforma do Ensino Médio vem sendo debatida pelos professores e diferentes segmentos da sociedade e recebendo majoritariamente manifestações contrárias.

O jornal Zero Hora publicou vários artigos sobre o tema. No domingo, 27 de novembro, Danilo Gandin manifesta-se contra o ensino médio profissionalizante, argumentando que, desde os primeiros anos da década de 70, os empresários disseram aos educadores: “Ensinem filosofia, o resto da profissionalização nós fazemos”. Segundo o professor Gandin, hoje é preciso formar indivíduos flexíveis, e não especializados demais; criativos, e não que tenham apenas conhecimentos; que saibam lidar com incertezas e aprender durante toda a vida; tenham habilidades sociais, capacidade de expressão, saibam trabalhar em grupo e assumir responsabilidades, busquem ser empreendedor, entenda as diferenças culturais e trabalhe com as novas tecnologias.

No artigo de 30 de novembro, o Secretário José Clovis de Azevedo reconhece o acerto da proposta contida na reforma do ensino de 1971, que introduzia profissionalização em todo o ensino médio, que somente não teve sucesso porque foi imposta e faltaram recursos materiais e intelectuais para sua implantação. Ou seja, o Secretário admite indiretamente que a atual proposta da SEC é a retomada da mesma concepção da ditadura militar para a educação brasileira, pior ainda, sem perceber que houve imensa mudança nas condições sociais de produção, pois, naquela época não tinha, por exemplo, internet. E será que agora não está novamente ocorrendo imposição e não haveria também falta de recursos às escolas para implantação da proposta da SEC?

No outro artigo publicado também no dia 30 de novembro na ZH, Jorge Barcellos desvela o caráter socialista da proposta da atual Secretaria da Educação e, ao mesmo tempo em que afirma sua "necessidade", reconhece sua contradição, pois precisa desenvolver simultaneamente "consciências críticas do capitalismo" e "atender as demandas do mundo do trabalho" desse mesmo capitalismo.

Ainda no domingo, 27 de novembro, a Zero Hora publicou matéria do jornalista Marcelo Gonzatto sobre essa reforma com quadro sintetizando entrevista com três professoras sobre o assunto, além da minha participação, também de Jaqueline Rosa Poças, professora da faculdade de Educação da ULBRA, e de Ana Crisitina Souza Rangel, Coordenadora do Curso de Pedagogia da Uniritter, onde há defesa de mais tempo para discussão.

A Agenda 2020, por meio do Fórum Temático da Educação em reunião realizada em 28 de novembro, questionou a proposta de reforma do Ensino Médio apresentada pela Secretaria da Educação.

Pelo que tenho acompanhado, a única entidade que manifestou posição a favor foi a Uges. Pela notícia que vi na imprensa, o Secretário José Clovis e dois deputados do PT estiveram presentes na reunião da entidade onde esse posicionamento favorável ao governo foi definido. Entretanto, grêmios de estudantes têm manifestado posições contrárias à proposta da SEC em atos noticiados na mídia. Ou seja, a posição da Uges pouco tem orientado a posição de sua base.

Em dois programas das Conversas Cruzadas, esse tema foi abordado. Em 16 de setembro, estiveram presentes a Secretária-adjunta Maria Eulália Nascimento e a Uges, a presidente do Cpers Rejane Oliveira e a ACPM-Federação e, de 1.200 ligações, 86% manifestaram-se contra a proposta do governo Tarso.

No dia 29 de novembro, participaram do debate o professor Alejandro representando a SEC, Danilo Gandin, Osvaldo ex-diretor do Parobé e participei, como ex-secretária da Educação, praticamente três contrários à proposta do governo (acho que a produção do programa não está conseguindo quem a defenda), e na interativa, com 1.118 ligações, o resultado foi o seguinte: a proposta de reforma do ensino médio do governo é 86% - nada convincente, 4% - pouco convincente e 10% - muito convincente.

A incompreensível a insistência e teimosia do governo Tarso na tentativa de implementar de forma impositiva, de cima para baixo, dessa reforma. Não se faz mudança pedagógica contra o magistério. É preciso conquistá-lo. Os professores precisam concordam, aderir e se sentirem preparados para a mudança. Será a reforma do Ensino Médio o "calendário rotativo" do governo Tarso?

Faça download dos artigos citados e do resultado da Reunião da Agenda 2020 e do quadro com a opinião de especialistas publicado no jornal Zero Hora.

*Ex-secretária da Educação do Rio Grande do Sul

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