Dep. Raimundo Gomes de Matos (PSDB/CE) |
Os casos de alteração de notas de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mostram a instabilidade de uma prova fundamental para o futuro dos estudantes, na visão do deputado Raimundo Gomes de Matos (CE).O jornal “O Estado de S. Paulo” revelou que o Ministério da Educação (MEC) mudou 129 notas do certame, e não apenas duas, como divulgado pela pasta.
“É triste vermos a cada dia a falta de ética nos procedimentos. Falta compromisso do governo federal em fazer com que o Enem volte a ter credibilidade. No momento em que se altera a nota dos participantes, é claro que gera instabilidade. Será que foram mesmo 129 notas? Em um país sério, o ministro e o coordenador do exame já estariam demitidos”, avaliou o tucano nesta segunda-feira (16).
O “Estadão” teve acesso a um documento em que um órgão do consórcio organizador do teste elenca o número de candidatos que tiveram notas retificadas em função de erro material. Questionado, o MEC confirmou os casos. Da lista, entregue à Justiça Federal de São Paulo, consta um processo em que o estudante Michael Cerqueira de Oliveira, de 17 anos, pede vista da prova. Sua nota mudou de “anulada” para 880. Na semana passada, o ministério confirmou que outro aluno, desta vez de Belo Horizonte, também teve a nota corrigida. Isso mostra como o sistema de correção é falho, segundo Gomes de Matos. “Demonstra ainda que o país não tem seriedade, o que é muito ruim para a sua imagem”, acrescentou.
A pasta afirma que todos os citados foram comunicados por telefone sobre a correção. Mas não é essa a versão da auxiliar administrativa Noemia Damazio, de 62 anos, de Belo Horizonte. Quando as notas do Enem foram divulgadas, ela notou que sua redação havia sido zerada. Ligou para o Fala Brasil, serviço de atendimento do MEC, e foi informada de que sua redação havia sido entregue em branco. “Como podia estar em branco? Eu me dediquei ao texto, fui uma das últimas a sair.”
O tucano considerou lamentável a persistência de erros, pois só quem sai prejudicado é o estudante. Para evitar novas falhas, o deputado ressaltou a necessidade de um choque de gestão. “Se a presidente Dilma fizer um leilão político, não vai resolver. A educação não pode ser levada como um balcão de negócio político. Quem assumir o ministério não pode ser por um projeto político, mas por um projeto pedagógico que realmente melhore a educação do povo brasileiro”, concluiu.
Correção duvidosa
→ Dos nomes citados na relação do Cespe, pelo menos nove são de candidatos de Minas Gerais, de acordo com levantamento da reportagem. Ainda há casos em Rondônia, Ceará, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.
→ Um examinador deu nota 800 para a redação de uma estudante carioca. O segundo avaliador decretou que ela havia “fugido ao tema” e deu zero. O terceiro corretor atribuiu 440, a nota final. Ela entrou com recurso na Justiça, mas a nota não foi alterada.
Cronologia de problemas
Outubro/2009 – MEC cancela o Enem após ser avisado pelo “Estadão” de que a prova havia vazado.
Dezembro/2009 – O Inep divulga gabarito errado das provas e seu presidente pede demissão.
Fevereiro/2010 – Inep admite problema na digitalização das redações que levou à divulgação errada das notas de 915 estudantes.
Agosto/2010 – Inep deixa vazar dados pessoais dos inscritos no Enem em 2007,2008 e 2009.
Novembro/2010 – Erros no cartão resposta e perguntas repetidas ou faltantes prejudicam candidatos, que fazem outra prova um mês depois. Tema da redação vaza em Pernambuco.
Outubro de 2011 – Colégio de Fortaleza antecipa a seus alunos 14 questões do exame, que são anuladas.
(Reportagem: Letícia Bogéa/ Foto: Brizza Cavalcante/Ag. Câmara/Áudio: Elyvio Blower)
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